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🎙️Entrevista - TILIKUM



TILIKUM — Entre a Selvageria, a Dor e a Criação

A Jornada de um Projeto Solo Obscuro vindo de Rondónia

Diretamente de Porto Velho, Rondónia (Brasil), nasce um projeto a solo de nome TILIKUM, um D.I.Y. de Tavico, multi-instrumentista e compositor que decidiu dar voz às suas próprias visões sombrias, sem concessões nem filtros. O álbum estreia, Flowers in Antarctica, lançado em 13 de setembro de 2024, é um manifesto cru, pessimista e intenso, mergulhado em influências do black, death e sludge metal, mas com uma identidade única que desafia os limites de género.

Em conversa intimista, Tavico fala-nos sobre o nascimento do projeto, o processo D.I.Y., as raízes na cena local rondoniense, e a sua visão artística profundamente marcada pela natureza, pela fragilidade humana e pela rejeição das formas tradicionais de transcendência. Um artista em plena construção, mas já com uma voz que merece ser ouvida.


TILIKUM nasceu como um projeto totalmente a solo. O que te levou a criar esse projeto e por que decidiste fazer tudo sozinho, desde os instrumentos até à produção?

Comecei a escrever músicas aos 13 anos e, mesmo não sendo ainda um guitarrista particularmente bom, já queria compor todos os instrumentos. Tinha uma visão bastante clara para o projeto e, à medida que fui praticando guitarra, passei para a bateria, depois para o baixo, agora falta-me aprender a voz.

Para mim, o Tilikum não é sobre ser o mais pesado ou impressionante, nem sobre exibir-me como multi-instrumentista. É sobre criar músicas fortes, simples e marcantes e construir álbuns que funcionem tanto como coleções de faixas como projetos coesos e completos.





O álbum 
Flowers in Antarctica saiu a 13 de setembro de 2024, às 7h06. Houve algum simbolismo na escolha desta data e hora?


Como tudo é feito em casa, percebi que precisava de um prazo para fechar o álbum. Se não colocasse uma data, corria o risco de ficar eternamente a corrigir e nunca lançar nada. Mais vale lançar o melhor que posso agora do que esperar por uma perfeição inatingível.

O meu aniversário é a 13 de janeiro, o do meu irmão a 20 de setembro e 13 de setembro calhou a uma sexta-feira 13. Um amigo brincou que devia lançar o álbum às 6:66. Gostei da ideia. Assim ficou: 13/09 às 6:66.




O som do álbum mistura black, death e sludge. Como conseguiste conjugar essas três escolas tão distintas?


Não gosto de me prender a géneros. Os meus álbuns preferidos são todos ecléticos. A Tilikum

sou eu a escrever música para mim mesmo. Seja o que for que componha, esse será o som da banda.

Black, Death e Sludge são as influências principais, mas já chamaram o Flowers in Antarctica de thrash, noise, experimental… e está tudo certo. A música é aquilo que ela quiser ser.



Sentes que bandas como Sarcófago, Mutilator, Acid Bath e Gojira moldaram o teu estilo? O que absorveste dessas influências?


Completamente. Dos Gojira aprendi a compor riffs e a estruturar ideias. Dos Acid Bath sou fã sobretudo das letras e da forma como criam uma estética própria. O álbum When The Kite String Pops mudou a minha forma de escrever e ouvir metal.

As bandas brasileiras dos anos 80, e as da cena local como Bedtrip, Morte Lenta, Darkness Crow ocupam um lugar especial no meu coração. Acho que qualquer músico brasileiro devia sentir esse respeito pela cena local.




Rondónia é uma zona distante dos grandes centros. Existe aí uma cena para este tipo de som mais obscuro? Como foi recebida a tua estreia?


A receção foi positiva, mas a cena é pequena. Toda a gente se conhece. Faltam bandas autorais com registos lançados. Eu e alguns amigos estamos a tentar mudar isso, incentivar a gravação e a composição.

Planeamos lançar uma compilação com bandas locais em outubro. Porto Velho tem pouca cultura e pouco incentivo à arte. Mas há um renascimento a acontecer e eu sou otimista.



Gravaste o álbum todo em casa? Como foi o processo técnico?


Sim, com exceção da bateria, tudo foi gravado em casa. Com equipamento básico. Guitarra e baixo ligados ao computador, plugins gratuitos, microfone simples comprado pela minha mãe na pandemia. A bateria foi gravada com dois microfones ligados a uma mesa de som chinesa num estúdio de ensaio.

A intenção foi ser cru, sujo e agressivo, mas com atenção aos detalhes. Usei o que tinha à mão. Acho que isso também transmite uma mensagem: qualquer pessoa pode gravar a sua música com o que tiver disponível.



Pensas levar os TILIKUM aos palcos ou é um projeto de estúdio?


Por agora, o foco é o estúdio — os álbuns e as composições. Adoraria tocar ao vivo e já tenho nomes de músicos em mente, mas talvez só aconteça no próximo ano.



O nome, TILIKUM, remete à orca mantida em cativeiro que acabou por matar o seu treinador. O que representa esse nome para ti?


Sou obcecado por animais marinhos desde criança. A história da orca Tilikum ficou-me na cabeça. Queria um nome forte, fácil de lembrar e com impacto tanto em português como internacionalmente.

Vejo a minha escrita como uma reflexão sobre o conflito entre a natureza e o nosso modo de vida tanto a natureza exterior como a interior. Somos carne, medo, instinto. Ainda assim, recusamo-nos a aceitar que também somos animais.

(Nota: pronuncia-se “TI-likum” ou “tili-KUM”, não “ti-LI-kum”, por favor!)


Para quem está agora a descobrir os TILIKUM, que faixa recomendarias como porta de entrada?


Costumo recomendar a faixa-título Flowers in Antarctica ou a primeira faixa Aborted. Ambas expressam bem o pessimismo e a agressividade que marcam o projeto. Children of Lobotomy e Rot, também são das minhas preferidas.

Estou já a ultrapassar a fase do Flowers in Antarctica, mas continuo muito orgulhoso do álbum. Um novo EP, Hell irá sair em outubro, algo mais acústico, mais noise, mais experimental também. Esse será o som do futuro da Tilikum.

 


Entrevista de Miguel Correia


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