🎙️Entrevista - ATROPELO




Atropelo, “Crossover, Consciência e Combate”


Nascidos do reencontro de músicos experientes da cena underground do ABC Paulista, os Atropelo surgem como uma voz urgente e frontal no metal nacional. Em conversa com o baterista Paulo Medina, percebemos que esta não é apenas mais uma banda de crossover entre thrash e hardcore, é um grito consciente, politizado e sem filtros, que denuncia a podridão social com riffs velozes e letras em português.

Com raízes em projetos anteriores como Ruptura Crossover e Leucócitos, a banda canaliza décadas de estrada e indignação para um som direto ao osso. Nesta entrevista, Paulo fala-nos da origem do grupo, do peso da mensagem, dos desafios de manter uma banda independente ativa e do que podemos esperar do primeiro álbum completo que já se prepara para ganhar forma.


Vocês são músicos com estrada no underground desde os anos 2000. O que motivou a união de forças em 2019 para dar vida ao Atropelo, e o que é que esta banda representa que os projetos anteriores não abordavam?

Os Atropelo nasceram da iniciativa do nosso vocalista e guitarrista base, o Eric, que na altura desenvolvia o seu projeto Ruptura Crossover. Coincidentemente, a banda Leucócitos (onde outros membros tocavam) encerrava as suas atividades. Foi então que Eric, Paulo, Digão e Renato uniram forças para formar o Atropelo.

Mantivemos a essência do crossover das bandas anteriores: som pesado, letras em português e críticas sociais e políticas intensas, contra a exploração da classe trabalhadora, o autoritarismo, o fascismo e as elites dominantes.



O single Brasil em Chamas já deixa claro o tom crítico e direto da banda. Como encaram o papel da música pesada no cenário político e social brasileiro atual? A arte tem o dever de provocar?

A arte tem, sim, esse dever de provocar, confrontar, denunciar. Os Atropelo não têm medo de se posicionar contra essa maré nojenta da extrema-direita brasileira. É precisamente este o papel que queremos ocupar: dar voz à revolta, desmascarar os podres do sistema e fazer as pessoas pensarem ou, pelo menos, sentirem que não estão sozinhas na sua indignação.


As letras em português e a escolha do crossover entre thrash e hardcore criam uma identidade sonora bem marcada. Como foi encontrar esse equilíbrio entre peso, velocidade e mensagem?


Os quatro músicos da banda já vinham dessa base, thrash, hardcore, crossover com fortes influências de bandas nacionais e internacionais do género. A química foi natural. O entrosamento foi tranquilo desde o início, e isso permitiu que o instrumental coeso servisse como base sólida para as letras. Com esse alicerce, foi fácil encaixar as mensagens que queríamos passar.


Quais os desafios de manter uma banda ativa e relevante na cena underground do ABC e São Paulo hoje, especialmente num cenário em que as redes sociais e os algoritmos influenciam tanto a visibilidade?

O desafio é brutal. Todos nós trabalhamos noutras áreas, com rotinas familiares e profissionais bem distintas. Conciliar tudo isso com a agenda da banda exige sacrifício e muita paixão.

Mas é no palco que tudo faz sentido: ver o público com as nossas camisolas, a cantar connosco, é o que nos motiva. As redes sociais e as plataformas de streaming são ferramentas úteis, claro, usamos tanto as gratuitas como as patrocinadas, mas nada substitui a presença física e a troca de energia ao vivo.


Estão em processo de criação de um álbum completo. O que é que o público pode esperar deste trabalho? Há alguma faixa ou conceito que represente o “coração” desta nova fase da banda?

Na verdade, o álbum já está pronto e muito em breve entraremos em
estúdio para começar as gravações. Vamos fazer uma releitura de músicas dos nossos projetos anteriores (Ruptura e Leucócitos), e juntar 4 ou 5 faixas completamente novas.

O conteúdo mantém-se fiel ao espírito do Atropelo: críticas sociais diretas, peso, fúria e convicção. O que muda agora é o amadurecimento: musicalmente estamos mais coesos, e a mensagem ainda mais afiada.




Entrevista de Miguel Correia


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