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🎙️Entrevista - MORTUÁRIO A.D.




☠️ Mortuário A.D. – Brutalidade Solitária e o Terror Feito Som


No submundo do metal extremo brasileiro, onde o ruído se transforma em manifestação visceral, encontramos os Mortuário A.D. projeto a solo de Victor Skullcrusher, um verdadeiro operário do underground. Influenciado pelo metal extremo nacional dos anos 80, Victor canaliza a crueza de nomes como Sepultura (Morbid Visions), Sarcófago ou Mutilator numa abordagem feita com poucos recursos, mas muita convicção. Em entrevista ao nosso blog, partilha o seu percurso, processo de criação e a razão por trás da brutalidade sonora que assina.


Os Mortuário A.D. são um projeto a solo onde assumes tudo: voz, guitarra, baixo, bateria. O que te motivou a seguir esse caminho solitário e assumir o controlo total da criação?

Quando era adolescente, tinha uma enorme vontade de ter uma banda com aquele estilo do Sepultura da fase Morbid Visions, mas sempre tive muita dificuldade em fechar uma formação estável. Cheguei até a duvidar do meu potencial enquanto músico e afastei-me durante alguns anos.
Mais tarde, já adulto, com algum conhecimento básico de bateria, decidi aprender guturais e experimentei montar um projeto onde eu fizesse tudo sozinho. Gostei tanto da experiência que criei os Mortuário A.D. para fazer o tipo de som que sempre quis ouvir.



As tuas influências são claras: Sepultura da era Morbid Visions, Sarcófago, Mutilator, Vulcano… O que achas que essas bandas deixaram como legado no metal extremo, e como procuras manter essa chama viva no teu som?

Tal como a Noruega tem o seu estilo muito próprio de black metal, ou a Suécia no death metal, acredito que essas bandas fizeram parte de uma primeira vaga de metal extremo brasileiro com uma sonoridade única que infelizmente se perdeu com o tempo.
Com os Mortuário A.D., tento prestar homenagem a essa geração e divertir-me a tocar o som que gosto com a mesma mentalidade crua e espontânea que essas bandas tinham quando começaram.


O som é cru, direto e sem concessões. Como é o teu processo de composição e gravação? Há espaço para improviso ou tudo é pensado ao detalhe?

Geralmente começo com um riff ou uma letra em mente, e tento encaixar tudo antes de gravar. Costumo gravar primeiro a guitarra no telemóvel, e como não tenho baixo em casa, duplico o áudio da guitarra e aplico um efeito para simular o baixo. Depois passo tudo para o computador, onde programo a bateria de forma sincronizada com a guitarra.
A voz também gravo no telemóvel, enquanto o instrumental toca no PC, e depois junto tudo no Reaper, onde aplico efeitos como reverb à voz.
Às vezes, algum riff não soa bem com os recursos limitados que tenho, e acabo por simplificar ou alterar. Nada é 100% fechado desde o início.


Sendo um projeto de uma só pessoa, como lidas com o desafio de manter a energia e a coesão em todos os instrumentos, e ainda criar atmosferas fortes com poucos recursos?

O maior desafio, sinceramente, é ter criatividade suficiente para gravar um álbum com mais de 30 minutos. Por isso impus a mim mesmo um desafio pessoal: lançar um álbum completo todos os anos no Halloween.
Fiz isso no ano passado com o álbum Die in Pain, planeado ao longo de vários meses, e estou a repetir o processo agora, para lançar um novo disco no Halloween deste ano.


As tuas letras abordam temas como terror, morte e armagedom. Esses temas são, para ti, uma catarse pessoal, uma homenagem ao horror clássico ou uma crítica à realidade que vivemos?

As letras inspiradas em filmes de terror são claramente uma homenagem a esse género cinematográfico, que adoro. Já as letras sobre morte e armagedom surgem como formas de descrever cenas que imagino e que muitas vezes acabo por transformar em música, sobretudo quando me faltam referências diretas de filmes.


Há planos para levar este projeto aos palcos com músicos convidados, ou preferes que o projeto se mantenha como um grito solitário de estúdio?

Já me apresentei ao vivo, normalmente com os instrumentais a tocar de fundo enquanto canto. Apesar de preferir compor e gravar sozinho, adoraria ter músicos comigo em palco só preciso de reunir a formação certa.


A cena extrema no Brasil sempre teve força no underground, mas nem sempre a visibilidade acompanha. Como vês o panorama atual do metal extremo no país? Há espaço para projetos como o teu?

Acho que hoje está mais fácil do que há dez anos, quando tentei formar a minha primeira banda. Hoje temos mais informação na internet sobre composição para subgéneros específicos, mais ferramentas para gravar em casa, e artistas acessíveis que ajudam com arte de capa, por exemplo.
Mas ainda falta espaço e oportunidades para bandas novas. Posso falar por mim tenho muita vontade de fazer mais concertos com os Mortuário A.D., mas as oportunidades continuam escassas.


Para quem está agora a descobrir o Mortuário A.D., que música ou lançamento recomendarias como porta de entrada para entender o espírito do projeto?

Recomendo especialmente o álbum Die in Pain e o EP Bloodshed. São os trabalhos de que mais me orgulho. O EP Bloodshed dá também uma boa ideia do que será o próximo álbum, que será lançado a 31 de Outubro.



Entrevista de Miguel Correia

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