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🎙️Entrevista - DISFAGIA

 

💥 Disfagia – Curto, Cru e Consciente

Disfagia é um daqueles projetos que surgem do submundo para gritar verdades desconfortáveis. Começou como crust punk, mas rapidamente mergulhou num universo ainda mais extremo, misturando grindcore, death, black e hardcore com mensagens urgentes e necessárias. Com forte inspiração em bandas como Napalm Death, Disrupt, Extreme Noise Terror, Doom e Terrorizer, o projeto solo aposta em faixas rápidas, sujas e com letras que atacam sem rodeios os efeitos da guerra, o colapso social e a exploração brutal da classe trabalhadora.


As tuas letras são marcadamente políticas e críticas, abordando temas como a guerra e a exploração dos trabalhadores. O que te move na hora de escrever? A música é para ti uma forma de denúncia, catarse ou intervenção?

Um dos grandes diferenciais do Disfagia, em relação aos meus outros projetos a solo, é que aqui as letras têm realmente um propósito de protesto.


Os Disfagia começaram como um projeto de crust punk, mas com o tempo foram incorporando elementos mais extremos como grindcore, death e black metal. Como surgiu essa evolução sonora?

Como sempre fui grande apreciador de metal extremo, chegou um momento em que senti vontade de fundir esses elementos com a batida de bateria e as letras de protesto dos Disrupt.

Inicialmente queria que o som do projeto se aproximasse do Terrorizer, mas sem recorrer aos blast beats. No entanto, já tinha um estilo musical muito marcado, sobretudo devido ao tempo que dediquei a outros projetos como os Mortuário A.D. e Necrovomit 666, muito influenciados pela primeira vaga de black metal.

No fim de contas, esta evolução foi o caminho mais natural para tornar o som dos Disfagia mais metálico.


Sendo um projeto a solo, como é gerir todas as fases da criação, composição, gravação, produção e ainda manter uma linha sonora tão crua e direta?

Costumo seguir o mesmo processo que utilizo nos meus outros projetos: gravo todos os instrumentos de cordas, take a take, no telemóvel, passo os ficheiros para o computador e programo a bateria para que fique sincronizada com os restantes instrumentos. A voz também gravo no telemóvel, enquanto o instrumental toca de fundo, e depois adiciono alguns efeitos no Reaper.

Acho que os próprios recursos limitados que tenho à disposição acabam por influenciar o som e isso contribui para que o resultado final seja ainda mais cru.

Qem convive comigo provavelmente descrever-me-ia como uma pessoa calma e pacífica, mas através das letras do Disfagia liberto todas as minhas inquietações. É a forma que encontrei de extravasar a raiva e a minha não conformidade com o mundo e o quotidiano.


As tuas principais influências, Napalm Death, Doom, Disrupt, Terrorizer, ENT, vêm de uma linhagem que sempre uniu peso e mensagem. O que procuras preservar ou transformar dessa tradição no som dos Disfagia?

Apesar de ter mudado o som do projeto com a intenção de parecer uma mistura de Disrupt, Terrorizer e Napalm Death evitando ao máximo os blast beats, o som acabou por absorver influências de war metal, especialmente na guitarra.

Isso deve-se ao meu estilo de tocar, que se consolidou com o tempo. Embora essa influência não tenha sido intencional no início, acabou por dar um toque de autenticidade.

Chegaram mesmo a comentar num dos EPs que publiquei no YouTube que a minha música parecia uma mistura de Disrupt com war wetal. Desde então, brinco dizendo que criei um novo subgénero: Bestial Crustgrind.


O Grindcore é conhecido por músicas curtas, intensas e agressivas. Para ti, o que torna uma faixa realmente eficaz dentro dessa estética?

Acredito que o mais importante numa faixa de grindcore é que, por mais curta que seja, tem de ser pesada e impactante.

Dependendo da duração, nem é necessária uma letra elaborada por vezes, basta uma única frase marcante para transmitir a mensagem.

Um exemplo disso é a música dos Disfagia intitulada Guerra, Morte e Destruição. É uma faixa curta, cuja letra se resume ao verso:

“Guerra, morte e destruição / dor e sofrimento.”


Como vês a relação entre a música extrema e a luta política num mundo em colapso? Achas que o underground ainda tem força para incomodar e provocar?

Já ouvi críticas à música extrema por parte de quem não entende as letras ou considera tudo apenas barulho. Mas, sinceramente, acho que é o estilo mais livre para gritar revolta.

É onde temos mais espaço para dizer o que sentimos de forma visceral. É agressivo por fora e profundamente verdadeiro por dentro.

Se há género musical com capacidade para provocar e despertar consciência é este.


Já pensaste em levar os Disfagia para o palco com uma formação ao vivo, ou a proposta continuará exclusivamente de estúdio?

Já fiz alguns concertos ao vivo com os Disfagia no formato one man band, onde coloco os instrumentais a tocar de fundo e assumo os vocais com a atuação mais caótica possível.

Acho que isso funciona muito bem para o grindcore, que é um estilo aberto ao experimentalismo e à ruptura.

Frequento muitos concertos de grind e estilos afins na minha cidade, por isso já há produtores que me conhecem. Curiosamente, há mais procura para concertos do Disfagia do que do Mortuário A.D., que é o meu projecto de death/thrash/black metal.


Para quem está a descobrir os Disfagia agora, que faixa ou trabalho escolherias como melhor representação da tua proposta sonora e ideológica?

Para quem quiser conhecer melhor os Disfagia, recomendo os EPs Corrupção e Horrores da Guerra.

São os lançamentos onde o som está mais bem gravado, sem perder o peso e a crueza que caracterizam o grindcore.

São curtos, intensos e vão direto ao ponto como tem de ser.


Entrevista de Miguel Correia

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