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🎙️Entrevista - BLACK CROSS
A história do metal em Portugal não pode ser contada sem que se dedique um capítulo àqueles que foram os pioneiros do black metal nacional: os Black Cross. É por isso que seis anos após ter entrevistado os Black Cross pela primeira vez, nos voltámos a encontrar no backstage da música e voltámos a conversar sobre o passado, o presente e o futuro. Parafraseando a banda, nessa nossa primeira entrevista em 2019 para a World of Metal: "Tudo se resume a sangue, suor e lágrimas".
No final desta entrevista encontrarás um registo video (com a qualidade possível) do concerto no Rock Rendez Vous a 10 de Julho de 1987 e uma pequena fotogaleria da banda.
Os Black Cross surgem em 1983 e terminam a sua actividade musical em 1988. O que fez com que a banda não tivesse continuado?
Black Cross não continuou por razões óbvias que as dificuldades dos anos 80 apresentavam e eram muitas (serviço militar obrigatório, questões financeiras, falta de apoio, poucos recursos para aquisição de material etc …)... agradecemos quefaçam um esforço e viagem no tempo até aos anos 80: se conseguirem fazer essa viagem e identificar todas as dificuldades dessa época em Portugal, que eram imensas, conseguem facilmente perceber porque os Black Cross e outras bandas nãa o vingarm. Só existia a RTP, (era a época das rádios piratas que muito ajudaram na divulgação do metal nacional e internacional), não havia internet nem redes sociais o tempo era limitado e infelizmente tínhamos que fazer pela vida, se fosse nos tempos atuais a “música” era outra… 😊
Voltámos a ouvir falar de vós em 2019, com a edição da biografia da banda e a reedição de “Sexta-Feira 13” a demo de 1986. Porquê este regresso após tantos anos de silêncio?
O regresso foi uma ideia do Luis Neto, um fan inconformado com o facto de não termos tido a continuidade e reconhecimento que merecíamos no panorama do Metal Nacional. Lançou-nos o desafio de escrever um livro sobre os Black Cross com a demo (há época utilizando as tecnologias atuais, com via a tentar melhorar em termos de sonoridade) com o qual concordamos e teve o nosso aval sem saber qual o impacto que teria, pois faltava-nos um registo discográfico e memorial.
Foi de facto muito positivo, onde recordamos vários episódios e pesquisa nas nossas memórias e arquivos (relatados no livro), fizemos várias edições do livro, em K7, em CD e depois só em CD, todas esgotaram e desta última edição restam meia dúzia de exemplares para esgotar.
Em 2023 é lançado um tributo aos Black Cross - “Pacto com o Diabo” - projeto desenvolvido pelo Luís Neto em parceria com a Universal Tongue e Sinais Produções, no qual vocês participam. Falem-nos desta experiência, do que sentiram em ter outras bandas a tocar alguns temas vossos, ...
Uma vez mais um projeto e desafio elaborado e desenvolvido pelo Luís Neto que demonstra a sua devoção a Black Cross. Foi todo um trabalho árduo, moroso e longo, desenvolvido e dispendioso em tempo, pois foi necessário pôr todas as bandas em estúdio para a realização do projeto, o que foi e é um enorme desafio.
A aceitação por parte das bandas intervenientes foi uma surpresa e de entrega total pois ninguém se negou a prestar este tributo ao que as velhas-guardas do metal nacional chamam (os Black Cross) de uma banda de “culto”.
O Luis Neto lançou-nos e desafio de gravarmos um tema que tivéssemos tocado ao vivo mas nunca tivéssemos gravado. Sentimos a obrigação de aceitar o desafio e gravar pelo menos um tema e assim, como somos rapaziada de desafios, nasceu “Crer em deus (pacto com o diabo)” tema nunca gravado que acaba por dar título ao tributo.
“Herético” foi um split lançado em 2024, em conjunto com os Sonneillon, uma das referências actuais do black metal. Como surgiu a ideia de fazer algo em conjunto? Como correu?
A ideia surgiu dos Sonneillon. Contactaram-nos com a ideia de juntar a primeira banda de black metal portuguesa, os Black Cross, e os Sonneillon, uma referência atual do black metal nacional.
Foi ótimo que se tenham lembrado de nós passados tantos anos e estando os Black Cross em standby. Foi excelente e correu tudo muito bem, são uns profissionais sem igual, dedicados à causa que defendem. Não há absolutamente nada a apontar, correu tudo muito bem. Foi TOP e desejamo-lhes uma vida longa na cena musical e de enormes sucessos.
Depois de toda esta actividade mais recente, ficou a vontade de um regresso aos palcos?
A vontade permanece e mexe (o chamado bichinho) com todos os elementos dos Black Cross mas de facto temos tido as dificuldades de sermos pessoas diferenciadas em termos profissionais e com pouca disponibilidade de tempo e, se de facto houve um momento em que esteve quase para acontecer, tivemos de nos render à evidência de que temos de deixar a oportunidade aos mais jovens (e existem muitos e com valor, a tocar muito bem e à espera de oportunidades). Quanto aos Black Cross, creio que tivemos o nosso cunho na história do Metal Nacional.
Agora vamos viajar um pouco até 1983. Nesse ano eram muito jovens. O que vos levou a querer fazer uma banda de metal? O que conheciam de música e bandas de metal e de que forma isso vos influenciou?
Éramos e somos todos amigos e nutríamos uma paixão e devoção pelo Metal a todos os níveis. Identificava-mo-nos com o som, visual, ideias e sonhávamos em fazer música pesada que nos levasse a disfrutar do nosso gosto e a partir daqui foi um pequeno passo para tudo o que sonhávamos e um dia quem sabe (sabia) subir a um palco e mostrar o nosso trabalho e gosto pelo Metal.
Bandas que nos influenciaram… Ui!!! Tantas...citando só algumas até porque vamos com toda a certeza esquecer de muitas outras que nos influenciaram.: Black Sabbath, Motorhead. Judas Priest, Iron Maiden, DIO, Venom, Destruction, Slayer, Metallica, Mercyful Fate, Megadeth, Exodus, Anthrax, Kreator S.O.D., Candlemass e muitos outros influenciaram-nos
Foi árduo, longo e doloroso, mas conseguimos fazer o que sonhávamos e que mais gostávamos fazer, e tocar música.
Como se lida com o título de primeira banda de black metal portuguesa?
Foi tudo muito pacífico e natural. Investimos na aparência, nas letras e no estilo musical da atualidade nos anos 80, com a qual nos identificávamos, e, sem nos apercebermos e darmos por isso, estávamos rotulados da primeira banda portuguesa de Black Metal, registo que ficou gravado aquando da gravação do anúncio para a RTP do “Diz não à Dependência”.
De reforçar que, tal como nos anos 80 neste anúncio que referenciamos “que não temos ligações com a droga” não tínhamos à época não temos nem nunca tivemos até há data de hoje … bem, tirando os comprimidos/fármacos receitados pelos médicos que nós, elementos dos Black Cross, necessitamos para nos manter vivos… 😊😊😊
Apesar de terem passado quase 40 anos, temáticas como “Genocídio” mantêm-se, infelizmente, muito actuais. O que vos pergunto é se era mais fácil encontrar inspiração para escrever canções nos anos 80 ou se hoje o mundo oferece temáticas “de bandeja”
Os tempos eram outros, tempos difíceis e com boas temáticas. Atualmente com os meios digitais e IA as condições são mais fáceis e com temáticas ao alcance de todos até com “notícias falsas” em que alguns acreditam. Com a IA e meios digitais tiraram o encanto do que era nos anos 80 o encontrar temáticas para escrever (a nosso ver).
O tema “Genocídio” foi escrito há mais de 40 anos e como dizes ainda hoje está actual. Sempre se falou do nuclear e de guerras, a humanidade “adormeceu” e estes temas estão sempre atuais e na ribalta, e estamos em crer que, infelizmente é uma temática que não irá ficar desatualizada, basta lermos os jornais e ligarmo-nos às redes sociais.
O metal faz-se com músicos e garra… no entanto hoje não podemos fugir à era digital… embora gostássemos…
Em 1986, qual foi a vossa intenção quando gravaram a demo “Sexta-Feira 13”? Já pensaram em gravar os temas da demo com todos os meios que existem disponíveis nos dias de hoje?
Na época, a intenção era registar os nossos trabalhos (com os fracos recursos de que dispunhamos) para entregar nas editoras. Actualmente já pensamos em utilizar os recursos atuais, mas por enquanto estamos em standby… tudo tem um princípio meio e fim.
Com certeza que acompanham a actualidade do meio musical mais pesado nacional. Qual a vossa opinião sobre o que se passa: bandas, fãs, festivais, oportunidades, apoios, ...
Ainda bem que hoje assistimos à proliferação de bandas cada vez melhores e mais profissionais com conhecimentos e recursos e que trazem sempre algo de positivo e acrescentam valor. O Metal está vivo e vemos os fãs sempre fieis à causa e também fãs de metal muito jovens. Como positivo, também a igualdade de género e sexo: por via disso existe um crescendo de fans e bandas do sexo feminino.
Existem imensos festivais de metal (por vezes até vários concertos na mesma data) que trazem oportunidades às bandas e muito público aos concertos.
Para terminarmos esta entrevista, o que diriam os Black Cross de hoje aos Black Cross dos anos 80?
Rosa, uma pergunta que parece fácil, mas de difícil resposta!
Aproveitem os momentos divirtam-se e sejam fieis aos Vossos princípios e convicções.
Sabendo o que sabemos hoje dizíamos que, abordada a música de outra forma, com outro desempenho e oportunidade, poderíamos ter continuado, mas a falta de condições assim o ditou.
Foram momentos excelentes e muito bons, de amizade e cumplicidade de um grupo de jovens amigos, e recordações que sem as quais, certamente que hoje não seríamos os mesmos.
Os Black Cross, agradecem especialmente à Rosa Soares e a todos os que se recordam dos Black Cross com carinho e admiração
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