Formados em 2005 na cidade de Parnaíba, litoral do Piauí, os Attma carregam no nome e na música uma combinação única de entrega, resistência e peso. Criados pelo guitarrista e compositor Paul Vlad, a banda rapidamente se destacou na cena local com o lançamento da demo Sunset of the Soul (2009) e apresentações ao lado de nomes consagrados do underground brasileiro.
Após um período de inatividade, os Attma regressaram em 2023 com uma nova formação e uma sonoridade mais agressiva, marcada pelo single Midnight Choice, que ganhou repercussão em rádios, fanzines e coletâneas de todo o Brasil. Com uma trajetória feita de persistência e reinvenção, o grupo prepara agora o lançamento de Mirror, prometendo manter viva a energia que sempre guiou o projeto.
Nesta entrevista, Paul Vlad fala sobre o passado e presente dos Attma, o desafio de fazer metal extremo no Nordeste e os planos para o futuro.
Paul, és o fundador dos Attma e estiveste presente, naturalmente, em todas as fases da banda. O que te motivou a dar início ao projeto em 2005 e o que representava musicalmente nessa altura?
Antes de criar este projeto, já tinha tocado noutras bandas de géneros diferentes de metal. Andava a compor riffs e ideias desde meados dos anos 90. Montar este projeto foi um desejo pessoal de tocar numa banda de metal e executar músicas originais. Naquele momento, as influências eram diferentes das atuais, muito por não termos acesso à informação como temos hoje. As influências vinham sobretudo de bandas dos anos 80 e 90, tanto clássicas como do cenário underground, e isso moldou a sonoridade dos Attma em 2005.
A demo Sunset of the Soul, lançada em 2009, marcou um momento importante da banda. O que recordas do processo de composição e gravação dessa fase? Como era a cena em Parnaíba e no Piauí nesse momento?
Esse registo foi muito importante para nós. Conseguimos lançar o cd físico, embora com poucas unidades, e apesar de não termos feito uma grande divulgação, foi bem recebido por algumas revistas da época, assim como por ouvintes. Foi a primeira experiência a gravar composições de metal em estúdio, já que antes tinha gravado outros estilos. Contámos com parceiros como Fernando Oliveira, que escrevia a maioria das letras, e conseguimos fazer bastantes concertos locais. Gravámos no Studio Perfil, na nossa cidade, e apesar da pouca experiência em produção musical, demos o nosso melhor. Na altura, havia uma boa frequência de concertos, inclusive com bandas conhecidas do underground brasileiro como os Mystifier, Jackdevil e os Torture Squad, para além de várias bandas locais. O Piauí sempre teve um cenário ativo, desde o rock clássico ao metal extremo, e cidades como Teresina, Parnaíba, Floriano e Piripiri sempre contribuíram para essa história.
Após essa fase intensa, a banda entrou num hiato de pelo menos cinco anos. O que levou à pausa e o que reacendeu a chama para retomar o projeto em 2023?
O principal motivo foi a falta de consistência na formação. Tivemos várias mudanças de membros e, por respeito aos que saíram e às suas razões, achei melhor parar. Continuei a compor, sempre com a confiança de que um dia a banda regressaria. A oportunidade surgiu ao ver Sullivan “Screamer” num concerto local, cuja voz me impressionou. Convidei-o de imediato para relançar a banda. Pouco depois juntou-se o baterista Lucas Soares, e começámos a ensaiar, ainda sem baixista. Durante três meses seguidos, criámos seis músicas inéditas com uma abordagem mais agressiva, incluindo elementos de black metal e influências old school.
A nova formação de 2023 trouxe também uma nova sonoridade mais agressiva e crua. Como definem essa mudança e como foi recebida pelo público e pela crítica underground?
O objetivo era soar mais agressivo. As composições ganharam mais peso e velocidade, inspiradas em bandas como Vader, Unleashed, Obituary, Celtic Frost e Kataklysm. Quem nos acompanha desde o início notou a diferença, especialmente no single Midnight Choice (2024), que teve boa repercussão, tocou em várias webrádios no Brasil e apareceu em coletâneas e playlists, sendo a única banda de Parnaíba nesses registos
Durante os ensaios, compusemos seis músicas novas e escolhemos Midnight Choice por ser a mais completa em termos de arranjos e por representar bem a nova sonoridade. Fizemos uma campanha para financiar a gravação e todo o processo correu muito bem. Ficámos muito satisfeitos com o resultado.
Depois, a saída do baterista Lucas Soares, marcou outra transição importante. Como foi lidar com essa mudança e como se deu a entrada de Dom Henrique na nova formação?
A saída do Lucas foi difícil, pois tínhamos uma sintonia criativa muito boa e ele tinha uma capacidade técnica e velocidade impressionantes. Por motivos de saúde, teve de deixar a banda. A procura de substituto foi complicada, pois não há muitos bateristas para metal extremo na região. Felizmente, o Dom Henrique, músico experiente e versátil, aceitou o desafio. Entrou juntamente com o baixista Sávio, e agora trabalhamos para consolidar esta nova formação.
O concerto no Grito Rock 2025 parece ter sido um momento marcante. Como foi essa atuação e qual foi a reação do público aos temas inéditos como The Mirror?
Foi uma realização pessoal e uma ótima oportunidade de regressar aos palcos. Apesar do tempo curto para preparar o repertório, conseguimos apresentar 10 faixas, incluindo inéditas como The Mirror, In the Gloom of Core e Final Breath. O público, embora reduzido, reagiu com interesse à nova abordagem. Agradecemos muito à produção do Grito Rock 2025 pela oportunidade.
A banda mistura memórias da primeira fase com composições mais recentes. Como equilibram esse passado e presente em palco e em estúdio?
Esse equilíbrio surge naturalmente, fruto das minhas influências antigas e atuais. Muitas músicas são criadas de forma intuitiva, e levamos tudo pronto para o estúdio para poupar tempo e recursos. Nos concertos, ainda estamos a adaptar este equilíbrio, mas a ideia é que o público sinta a evolução sem perder a identidade.
A cena metal no Nordeste é muitas vezes marcada por luta e resistência. Como é fazer metal extremo em Parnaíba e que desafios e forças encontram no cenário local?
O maior desafio é viver num país onde o metal não tem apoio institucional e num estado longe dos grandes centros. Mas a cena nordestina é muito ativa e tem crescido, tanto em qualidade de produção como em número de bandas e festivais. Em Parnaíba, apesar de poucas bandas ativas, temos espaços como o Studio Nasc Pub, que mantém a chama acesa trazendo nomes de peso do underground nacional e até estrangeiros.
O que podem revelar sobre o novo single que estão a planear gravar? Há uma linha temática ou musical que querem explorar nesta nova etapa?
O próximo single chamar-se-á Mirror. É uma das nossas faixas mais rápidas e cruas, com passagens cadenciadas. As letras tendem a ter um tom introspectivo, filosófico e niilista, e Mirror aborda desilusão e caos psicológico. Queremos lançá-lo antes do final de 2025.
Por fim, o nome Attma remete à palavra “ātman”, ou “alma” em sânscrito. O que representa para vocês este nome e como a “alma” da banda mudou ao longo do tempo?
Escolhi o nome para simbolizar a dedicação e a energia que coloco nas composições tudo é feito com alma. Desde os anos 90, quando criei os primeiros riffs que se tornariam Attma, até hoje, passámos por várias fases e formações, mas sempre mantendo a essência e o equilíbrio entre o passado e o presente.
Entrevista por Miguel Correia