🎙️Entrevista - ATTMA




Entre a alma e o peso do metal extremo

Formados em 2005 na cidade de Parnaíba, litoral do Piauí, os Attma carregam no nome e na música uma combinação única de entrega, resistência e peso. Criados pelo guitarrista e compositor Paul Vlad, a banda rapidamente se destacou na cena local com o lançamento da demo Sunset of the Soul (2009) e apresentações ao lado de nomes consagrados do underground brasileiro.
Após um período de inatividade, os Attma regressaram em 2023 com uma nova formação e uma sonoridade mais agressiva, marcada pelo single Midnight Choice, que ganhou repercussão em rádios, fanzines e coletâneas de todo o Brasil. Com uma trajetória feita de persistência e reinvenção, o grupo prepara agora o lançamento de Mirror, prometendo manter viva a energia que sempre guiou o projeto.
Nesta entrevista, Paul Vlad fala sobre o passado e presente dos Attma, o desafio de fazer metal extremo no Nordeste e os planos para o futuro.


Paul, és o fundador dos Attma e estiveste presente, naturalmente, em todas as fases da banda. O que te motivou a dar início ao projeto em 2005 e o que representava musicalmente nessa altura?

Antes de criar este projeto, já tinha tocado noutras bandas de géneros diferentes de metal. Andava a compor riffs e ideias desde meados dos anos 90. Montar este projeto foi um desejo pessoal de tocar numa banda de metal e executar músicas originais. Naquele momento, as influências eram diferentes das atuais, muito por não termos acesso à informação como temos hoje. As influências vinham sobretudo de bandas dos anos 80 e 90, tanto clássicas como do cenário underground, e isso moldou a sonoridade dos Attma em 2005.


A demo Sunset of the Soul, lançada em 2009, marcou um momento importante da banda. O que recordas do processo de composição e gravação dessa fase? Como era a cena em Parnaíba e no Piauí nesse momento?

Esse registo foi muito importante para nós. Conseguimos lançar o cd físico, embora com poucas unidades, e apesar de não termos feito uma grande divulgação, foi bem recebido por algumas revistas da época, assim como por ouvintes. Foi a primeira experiência a gravar composições de metal em estúdio, já que antes tinha gravado outros estilos. Contámos com parceiros como Fernando Oliveira, que escrevia a maioria das letras, e conseguimos fazer bastantes concertos locais. Gravámos no Studio Perfil, na nossa cidade, e apesar da pouca experiência em produção musical, demos o nosso melhor. Na altura, havia uma boa frequência de concertos, inclusive com bandas conhecidas do underground brasileiro como os Mystifier, Jackdevil e os Torture Squad, para além de várias bandas locais. O Piauí sempre teve um cenário ativo, desde o rock clássico ao metal extremo, e cidades como Teresina, Parnaíba, Floriano e Piripiri sempre contribuíram para essa história.


Após essa fase intensa, a banda entrou num hiato de pelo menos cinco anos. O que levou à pausa e o que reacendeu a chama para retomar o projeto em 2023?

O principal motivo foi a falta de consistência na formação. Tivemos várias mudanças de membros e, por respeito aos que saíram e às suas razões, achei melhor parar. Continuei a compor, sempre com a confiança de que um dia a banda regressaria. A oportunidade surgiu ao ver Sullivan “Screamer” num concerto local, cuja voz me impressionou. Convidei-o de imediato para relançar a banda. Pouco depois juntou-se o baterista Lucas Soares, e começámos a ensaiar, ainda sem baixista. Durante três meses seguidos, criámos seis músicas inéditas com uma abordagem mais agressiva, incluindo elementos de black metal e influências old school.


A nova formação de 2023 trouxe também uma nova sonoridade mais agressiva e crua. Como definem essa mudança e como foi recebida pelo público e pela crítica underground?

O objetivo era soar mais agressivo. As composições ganharam mais peso e velocidade, inspiradas em bandas como Vader, Unleashed, Obituary, Celtic Frost e Kataklysm. Quem nos acompanha desde o início notou a diferença, especialmente no single Midnight Choice (2024), que teve boa repercussão, tocou em várias webrádios no Brasil e apareceu em coletâneas e playlists, sendo a única banda de Parnaíba nesses registos


Falas em Midnight Choice. Como foi ver esse retorno e como surgiu a escolha desta faixa para representar a nova fase da banda?

Durante os ensaios, compusemos seis músicas novas e escolhemos Midnight Choice por ser a mais completa em termos de arranjos e por representar bem a nova sonoridade. Fizemos uma campanha para financiar a gravação e todo o processo correu muito bem. Ficámos muito satisfeitos com o resultado.


Depois, a saída do baterista Lucas Soares, marcou outra transição importante. Como foi lidar com essa mudança e como se deu a entrada de Dom Henrique na nova formação?

A saída do Lucas foi difícil, pois tínhamos uma sintonia criativa muito boa e ele tinha uma capacidade técnica e velocidade impressionantes. Por motivos de saúde, teve de deixar a banda. A procura de substituto foi complicada, pois não há muitos bateristas para metal extremo na região. Felizmente, o Dom Henrique, músico experiente e versátil, aceitou o desafio. Entrou juntamente com o baixista Sávio, e agora trabalhamos para consolidar esta nova formação.


O concerto no Grito Rock 2025 parece ter sido um momento marcante. Como foi essa atuação e qual foi a reação do público aos temas inéditos como The Mirror?

Foi uma realização pessoal e uma ótima oportunidade de regressar aos palcos. Apesar do tempo curto para preparar o repertório, conseguimos apresentar 10 faixas, incluindo inéditas como The Mirror, In the Gloom of Core e Final Breath. O público, embora reduzido, reagiu com interesse à nova abordagem. Agradecemos muito à produção do Grito Rock 2025 pela oportunidade.


A banda mistura memórias da primeira fase com composições mais recentes. Como equilibram esse passado e presente em palco e em estúdio?

Esse equilíbrio surge naturalmente, fruto das minhas influências antigas e atuais. Muitas músicas são criadas de forma intuitiva, e levamos tudo pronto para o estúdio para poupar tempo e recursos. Nos concertos, ainda estamos a adaptar este equilíbrio, mas a ideia é que o público sinta a evolução sem perder a identidade.


A cena metal no Nordeste é muitas vezes marcada por luta e resistência. Como é fazer metal extremo em Parnaíba e que desafios e forças encontram no cenário local?

O maior desafio é viver num país onde o metal não tem apoio institucional e num estado longe dos grandes centros. Mas a cena nordestina é muito ativa e tem crescido, tanto em qualidade de produção como em número de bandas e festivais. Em Parnaíba, apesar de poucas bandas ativas, temos espaços como o Studio Nasc Pub, que mantém a chama acesa trazendo nomes de peso do underground nacional e até estrangeiros.


O que podem revelar sobre o novo single que estão a planear gravar? Há uma linha temática ou musical que querem explorar nesta nova etapa?

O próximo single chamar-se-á Mirror. É uma das nossas faixas mais rápidas e cruas, com passagens cadenciadas. As letras tendem a ter um tom introspectivo, filosófico e niilista, e Mirror aborda desilusão e caos psicológico. Queremos lançá-lo antes do final de 2025.

Por fim, o nome Attma remete à palavra “ātman”, ou “alma” em sânscrito. O que representa para vocês este nome e como a “alma” da banda mudou ao longo do tempo?

Escolhi o nome para simbolizar a dedicação e a energia que coloco nas composições tudo é feito com alma. Desde os anos 90, quando criei os primeiros riffs que se tornariam Attma, até hoje, passámos por várias fases e formações, mas sempre mantendo a essência e o equilíbrio entre o passado e o presente.


Entrevista por Miguel Correia





🖋️REVIEW - "Choke On This" - STEREOPHOBIA

[English translation after the video]



Nascido em 2017, Stereophobia, o trio português composto por Mike Rocha (guitarra e voz), Dany Antunes (bateria) e Bruno Santos (baixo), lança amanhã, dia 29 de Agosto, o seu segundo álbum intitulado Choke On This, pela editora americana Eclipse Records.

O álbum começa com o tema XFile #903YU uma introdução que nos penetra a mente, de voz sussurrada, como se contasse um segredo, algo que não pode ser dito nem ouvido e que nos convida para o que vamos vivenciar de seguida; é um convite para nos tornarmos em arqueólogos de memórias e emoções.

À semelhança de Maggots, Uncle Clarke’s (Made Me Do It), o quarto tema, foi um dos escolhidos como single de avanço do lançamento do álbum. Com estas duas escolhas a banda revela a sua versatilidade: se Maggots, o segundo tema se caracteriza por vocais limpos, guturais agressivos e o exotismo do Médio Oriente que nos capturam de forma hipnótica, Uncle Clarke’s (Made Me Do It) é de clara influência grunge, com a voz de Mike a mostrar mais uma vez a sua versatilidade, assumindo a “sujidade” típica deste género musical e um ritmo que nos conduz a um quase transe - quase porque o refrão quebra esse ciclo, assim como os momentos mais agressivos dos guturais.

The Tourist, o sexto tema, tem aquele som de baixo que marca a tensão, como se algo fosse acontecer a qualquer momento. É um tema em que nos sentimos a caminhar em pontas dos pés sobre uma corda bamba, de onde podemos cair a qualquer momento sem hipótese de recuperação. Mas optamos por seguir, atraídos pelo abismo da queda e ansiosos por chegar ao fim da corda.

Plastik Queen é um dos temas que se destaca pela bateria eletrizante, hipnótica e ritualística, criando o ritmo perfeito para a crítica clara e directa à plastificação da vida nas redes sociais.

Bateria impactante, baixo contundente, guitarra poderosa e voz que é a capaz de despertar os demónios mais profundos de cada um de nós e embalá-los de seguida num colo apaziguador. Essa voz, camaleónica, consegue ter tanto de belo como de monstro, de doce, como de agressivo, de envolvente como de loucura extravasada.

Falar de grunge, metal alternativo, hard rock, guturais, vozes limpas, agressividade, sons creepy até algo skizoo, pode parecer uma parafernália estranha de sonoridades. Mas a verdade é que Stereophobia consegue uma harmonia de estilos, vocalizações e até velocidades, como poucos são capazes e mostra-nos o quanto a diversidade pode ser extremamente agradável e atraente.

Ouvir Choke On This é entrar num mundo onde a mente é conduzida de forma ambivalente para territórios delirantes em espaços apaziguadores, onde a dor e a sua anulação caminham lado a lado num diálogo crítico, contundente, sem malabarismos, cru e directo.

Existe em Choke On This uma evolução nítida em relação ao álbum anterior, No One Cares de 2023, que se traduz num som mais pesado, com diversas camadas sonoras e uma produção, da responsabilidade de MC Sound Studios, cuidada e refinada que deixa para trás a influência DIY.

Não é um álbum fácil porque exige atenção e, principalmente, mente aberta para a diferença e para sair de mais do mesmo, onde ser comercial não é de todo a etiqueta que lhe serve.

Choke On This é um álbum que nos deixa a oscilar entre as memórias e a demência.






Formed in 2017, Stereophobia, the portuguese trio formed by Mike Rocha (guitar and vocals), Dany Antunes (drums), and Bruno Santos (bass), releases their second album, Choke On This, tomorrow, August 29th, on the American label Eclipse Records.


The album begins with the track XFile #903YU, an intro that penetrates our minds, whispered, as if telling a secret, something that cannot be spoken or heard, inviting us into what we will experience next; it is an invitation to become archaeologists of memories and emotions.


Like Maggots, Uncle Clarke's (Made Me Do It), the fourth track, was chosen as the lead single from the album's release. With these two choices, the band reveals its versatility: if Maggots, the second track, is characterized by clean vocals, aggressive growls, and the exoticism of the Middle East that captivate us hypnotically, Uncle Clarke's (Made Me Do It) has a clear grunge influence, with Mike's voice once again demonstrating its versatility, embracing the "dirt" typical of this musical genre and a rhythm that almost leads us into a trance—almost because the chorus breaks this cycle, as do the more aggressive moments of the growls.


The Tourist, the sixth track, has that bass sound that marks the tension, as if something could happen at any moment. It's a track that makes us feel like we're walking on tiptoe on a tightrope, from which we could fall at any moment with no chance of recovery. But we choose to keep going, drawn by the abyss of the fall and eager to reach the end of the rope.


Plastik Queen is one of the tracks that stands out for its electrifying, hypnotic, and ritualistic drums, creating the perfect rhythm for a clear and direct critique of the plasticization of life on social media.


Impactful drums, a powerful bass, a complex guitar, and a voice capable of awakening the deepest demons within each of us and then cradling them in a soothing embrace. This chameleon-like voice manages to be both beautiful and monstrous, sweet and aggressive, captivating and overflowing madness.


Talking about grunge, alternative metal, hard rock, gutturals, clean vocals, aggression, creepy sounds, even something skizoo-like may seem like a strange array of sounds. But the truth is that Stereophobia achieves a harmony of styles, vocalizations, and even speeds like few others, and shows us how diversity can be extremely pleasing and appealing.


Listening to Choke On This is like entering a world where the mind is ambivalently led to delirious territories in soothing spaces, where pain and its annulment walk side by side in a critical, blunt, unambiguous, raw, and direct dialogue.


Choke On This represents a clear evolution from the previous album, 2023's No One Cares, which translates into a heavier sound, with diverse sonic layers and a careful and refined production, under the responsibility of MC Sound Studios, that leaves behind the DIY influence.


It's not an easy album because it demands attention and, above all, an open mind to difference and to moving away from more of the same, where being commercial is in no way the record label that serves it.


Choke On This is an album that leaves us oscillating between memories and dementia.

🎙️Entrevista - THE ODDEVEN

[Tradução para português depois do video] 


OddEven is an alternative rock/metal band composed of Weed (bass), E.T. (guitar), Grant Walker (vocals), and Jim Chaney (drums). Under the theme of aliens, The OddEven critically reflects on the world of humans. Outer Space Outtakes is the American band's latest work, released by Eclipse Records on March 14, 2025. It transports the listener through the universe and encounters with beings from other planets, with a hypnotic sound that leaves us feeling perpetually poised, somewhere between earth and sky. And to tell us about these extraterrestrial encounters, BACKSTAGE 2.0 managed, between teleportations and well-kept secrets, to speak with Weed, the band's bassist.


The OddEven is a band that defines itself as post-grunge alternative metal. What are your main musical influences?  


We pull from all kinds of musical influences…  we all came up on bands and genres like Zep and Sabbath, 80’s British and “hair” metal, Soundgarden, AIC, Nirvana, to Nu Metal…  but it goes beyond that – E.T. was in a reggae band for a number of year prior to The OddEven, and I was playing in a funk/groove band



And how did the band come about? I heard you're escapees from Hangar #3 at Area 51...  


We cannot confirm or deny this


Alien encounters to show us that life will be easier and interpersonal relationships less complex if we free ourselves from the toxicity that surrounds the current world. Is an alien world necessary to bring humanity back to the human world?  


I mean probably…  I was in DC today, and the police state checkpoints are not a place I want to live in.  Bring on the aliens with their spaceships + interstellar mushrooms and LSD.  Take us away!


Is the choice of the alien theme a rational choice to make a difference, or does it have more to do with each of your emotions and is it something that, in a way, defines you as people? Do you believe we are not alone in the universe?  


There is no chance we are alone…  smart $ puts us as an alien ant farm of sorts.  The band name and alien theme actually came from me taking a DNA test 3 times and coming back with no results.  E.T.  commented “That is odd…even…  maybe you are an alien!


You have opened for bands like Faster Pussycat, Soulfly, Slaughter, and LA Guns. What makes you perform with such different bands: being non-human beings or being free humans? 


Like our influences, we love all kinds of music and anything that rocks.  If it is a cool band, and the show is cool, and the routing makes sense, then let’s go rock it!  We love playing live and love meeting new people in new cities




What's your fondest memory of these shows, opening for bands with extensive road experience like the ones mentioned in the previous question?  


We have played all over the U.S., and anytime we tour with, or do a one-off opener, for a major act, it is always a blast.  Meeting new people, making new friends and fans…  the bands have pretty much been super-cool.  I don’t know  if there is one lasting memory that is best (at least not one I should say publically!)…  I will say that a lot of these guys have a bad reputation for being distant that is not deserved at all.  When you are on the road for lengthy periods of time, it is really hard to do the same thing over and over, day in and day out.  It is hard to always be up, and happy, and available, and pleasant with everyone and go put on a kick ass show.  Sometimes you just need to be alone.  Some of the biggest “offenders” of not being cool to people, are actually the nicest guys and gals.  Most people wouldn’t last 3 days on tour for numerous reasons.  It is all for the love of rock-n-roll.



What led you to sign with Eclipse Records in 2024? What new things did it bring to the band? 


Eclipse is great in that their marketing and promotion team do things so much differently than most labels.  A lot of labels these days will sign you,  do very little, and provide minimal access to the folks at the label for the artist.  Eclipse is the exact opposite – they really care about their artists and are in constant contact discussing new ideas to get bigger, better, and reach more people.


I imagine your shows as an explosion of energy from the stage to the audience...  Do you have anything planned for outside the US?  


Being on stage is the best.  When you are on tour, 22+ hours of the day are very hard, and the 1 hour on stage is amazing.  It is what drives you to push on.  It is like the best drug.  We treat every show as a gift from the stars and as it may be our last, so we always give it 110% each night.  We had loose plans to go to Japan earlier this year, but those got scrapped for various reasons.  Hopefully Europe on the next record which we start recording in November.


If you encountered real beings from another planet, what would you say to them?  


…maybe they would just use telepathy to read my mid so I wouldn’t have to say anything.


A message for the humans and the aliens who have been and will be reading this interview.  


We love and thank you for supporting The OddEven.  Can’t wait to see everyone again who we have crossed paths with already, and to meet new friends in the future!  Cheers!




******************************

The OddEven são uma banda de rock/metal alternativo composta por Weed (baixo), E.T. (guitarra), Grant Walker (voz) e Jim Chaney (bateria). Sob o tema alienigena, The OddEven fazem uma reflexão crítica sobre as coisas do mundo dos humanos. Outer Space Outtakes é o mais recente trabalho da banda americana, editado pela Eclipse Records a 14 de março de 2025, que transporta o ouvinte através do universo e encontros com seres de outros planetas, numa sonoridade hipnótica onde nos sentimos permanentemente num equílibrio muito ténue, algures entre a terra e o céu. E para nos falar destes encontros extraterrestres, o BACKSTAGE 2.0 conseguiu, entre teletranportes e segredos bem guardados, falar com Weed, o baixista da banda. 


Os OddEven são uma banda que se define como metal alternativo pós-grunge. Quais são as vossas principais influências musicais? 


Viemos de todo o tipo de influências musicais... todos nós crescemos a ouvir bandas e géneros como Zep e Sabbath, metal britânico e "hair" dos anos 80, Soundgarden, AIC, Nirvana, até Nu Metal... mas vai para além disso – E.T. tocou numa banda de reggae durante vários anos antes dos The OddEven, e eu tocava numa banda de funk/groove.


E como surgiu a banda? Ouvi dizer que fugiram do Hangar nº 3 da Área 51... 


Não podemos confirmar ou negar isso.


Encontros com alienígenas para nos mostrar que a vida será mais fácil e as relações interpessoais menos complexas se nos libertarmos da toxicidade que rodeia o mundo atual. Será necessário um mundo alienígena para trazer a humanidade de volta ao mundo humano? 


Quer dizer, provavelmente... Estive hoje em Washington, D.C., e os postos de controlo do estado policial não são um lugar para onde eu queira ir viver. Que venham os alienígenas com as suas naves espaciais + cogumelos interestelares e LSD. Levem-nos daqui!


A escolha do tema alienígena é uma escolha racional para fazer a diferença, ou tem mais a ver com as emoções de cada um de vós e é algo que, de certa forma, vos define enquanto pessoas? Acreditam que não estamos sozinhos no universo? 


Não há a mínima hipótese de estarmos sozinhos... o smart $ coloca-nos como uma espécie de formigueiro alienígena. O nome da banda e o tema alienígena, na verdade, surgiram de mim, depois de ter feito um teste de ADN três vezes e não ter encontrado qualquer resultado. E.T. comentou: "Que estranho... até... talvez sejas um alienígena!"


Abriram concertos para bandas como Faster Pussycat, Soulfly, Slaughter e LA Guns. O que vos faz actuar com bandas tão diferentes: serem seres não humanos ou humanos livres? 


Tal como as nossas influências, adoramos todos os tipos de música e tudo o que se passa em seu redor. Se for uma banda fixe, o concerto for fixe e a rota fizer sentido, então vamos arrasar! Adoramos tocar ao vivo e conhecer novas pessoas em novas cidades.


Qual é a melhor recordação desses concertos, a abrir para bandas com vasta experiência em digressão, como as referidas na pergunta anterior? 


Tocamos por todos os EUA e sempre que fazemos digressões ou abrimos um concerto único para uma banda grande, é incrível. Conhecer novas pessoas, fazer novos amigos e fãs... as bandas têm sido super fixes. Não sei se existe uma memória duradoura que seja a melhor (pelo menos não uma que eu deva revelar publicamente!)... Devo dizer que muitos destes músicos têm uma péssima reputação de distanciamento, o que não é correcto. Quando se está na estrada durante longos períodos, é muito difícil fazer a mesma coisa repetidamente, dia após dia. É difícil estar sempre entusiasmado, feliz, disponível, agradável com todos e fazer um espetáculo incrível. Às vezes, só precisas de estar sozinho. Alguns dos maiores "criminosos" por não serem simpáticos com as pessoas são, na verdade, as pessoas mais simpáticas. A maioria das pessoas não duraria 3 dias em digressão por vários motivos. Tudo por amor ao rock and roll.


O que vos levou a assinar com a Eclipse Records em 2024? Que novidades trouxe para a banda? 


A Eclipse é óptima, pois a sua equipa de marketing e promoção faz as coisas de forma muito diferente da maioria das editoras discográficas. Muitas editoras hoje em dia contratam-te, fazem muito pouco e fornecem acesso mínimo ao pessoal da editora para o artista. A Eclipse é exatamente o oposto – preocupam-se realmente com os seus artistas e estão em contacto constante, discutindo novas ideias para crescer, melhorar e chegar a mais pessoas.



Imagino os vossos concertos como uma explosão de energia do palco para o público... Têm algo planeado para fora dos EUA? 


Estar em palco é o máximo. Quando se está em digressão, mais de 22 horas por dia são muito difíceis, e 1 hora em palco é incrível. É o que te motiva a seguir em frente. É como a melhor droga. Tratamos cada concerto como um presente das estrelas e, como pode ser o último, dedicamo-nos sempre a 110% a cada noite. Tínhamos planos vagos para ir ao Japão no início deste ano, mas foram cancelados por vários motivos. Espero que a Europa esteja na mira do próximo disco, que começaremos a gravar em Novembro.


Se encontrasses seres reais de outro planeta, o que lhes dirias? 


...talvez simplesmente usassem a telepatia para ler a minha mente, para que eu não tivesse de dizer nada.


Uma mensagem para os humanos e alienígenas que leram e vão ler esta entrevista. 


Adoramo-vos e agradecemos por apoiarem o The OddEven. Mal podemos esperar para rever todos com quem já nos cruzámos e para conhecer novos amigos no futuro! Um abraço!


🖋️REVIEW - "Halls Of Alabaster" - A CONSTANT STORM



Três anos depois do lançamento de Ant, A Constant Storm, projecto a solo de Daniel Laureano regressa com um novo álbum: Halls Of Alabaster, com lançamento hoje, 15 de agosto de 2025 (https://aconstantstorm.bandcamp.com/album/halls-of-alabaster) .


Se é verdade que Daniel Laureano não nos surpreende pela excelência compositiva a que já nos habituou, também é verdade que nos continua a surpreender a cada álbum com a sua versatilidade, capacidade de criação e mente numa constante tempestade criativa


Halls Of Alabaster começa com o tema Alabaster que nos prende desde logo, impossibilitando a paragem da audição até que o álbum termine. E mesmo quando termina é quase impulsiva a vontade de retomar. 


A escuta de Halls Of Alabaster conduz-nos como num sonho do qual acordamos a sorrir e com uma sensação de bem-estar. E quem nunca sonhou ser um pirata de papagaio no ombro em busca de um tesouro numa ilha perdida?

Halls of Alabaster transporta-nos a esse sonho, desde as viagens de piratas sob as ordens do Capitão Flint, navios de velas rasgadas e bandeiras hasteadas com caveiras e tíbias cruzadas até à chegada à Ilha do Tesouro.


A narrativa cuidada e cativante é acompanhada de um instrumental hipnótico, ora vibrante ora melancólico, que nos invade não só auditivamente mas em todos os nossos sentidos: há momentos em que o mar salgado nos toma conta do olfacto e do paladar, e há também momentos em que sentimos a areia nas mãos, tal como um pirata que finalmente cai de joelhos, exausto, ao chegar a uma ilha onde poderá finalmente descansar para logo sentirmos a euforia de uma busca pelo tesouro perdido. 


Halls Of Alabaster é uma pérola de rock progressivo, que nos faz recordar as sonoridades prog dos anos 60/70, mas sem se perder no passado. Ao longo de todo o álbum existem elementos que criam uma atmosfera riquíssima e contribuem para a intensidade que o caracteriza: momentos quase acústicos, bateria de ritmo tribal, guitarra clássica, cordas de orquestra, narrativas em voz grave, sons de elementos da natureza…  


Outro elemento de destaque é a forma como a ligação entre temas é feita, permitindo uma audição dos seis temas como se um único fosse - é como um livro onde cada tema é um capítulo que só existe no seguimento do anterior e na antevisão do seguinte. 


O álbum encerra com Coming Home, tema que é uma compilação de magia em oito minutos e dezasseis segundos.

Nesta aventura marítima do Capitão Flint, quanto existirá da aventura terrestre do próprio Daniel Laureano?  




🎙️Entrevista - AREABESTA FESTIVAL

[Tradução para português depois do cartaz final] 



¿Un festival de metal organizado en tiempo récord, sin ánimo de lucro y con el apoyo de entidades públicas? Sí, lo es. El cartel ya está confirmado y está a dos horas y media en coche de Oporto. Está en Galicia, se llama AREABESTA, y los organizadores concedieron una entrevista a BACKSTAGE 2.0 explicando cómo surgió esta aventura.


¿Quién organiza el Areabesta?

El festival está organizado por la Asociación Areabesta, una entidad sin ánimo de lucro formada por músicos y amantes del metal, con la colaboración de la Asociación de Vecinos de Rebordelo. Somos gente del propio territorio, comprometida con la cultura y con los sonidos más potentes como el metal y el rock. No contamos con grandes estructuras, solo con la fuerza de una comunidad unida por la pasión por la música.


Crear un festival de metal desde cero, en tiempo récord. ¿Cómo surgió la idea?

La idea nació de una combinación de impulso, pasión por el metal y una pregunta directa: “¿Y si lo organizamos nosotros?” A veces, la clave está en tener iniciativa, determinación y la valentía de actuar sin complejos para alcanzar los objetivos. No basta con esperar a que las oportunidades lleguen: hay que salir a buscarlas.

Con ese espíritu, y en menos de un mes, nos pusimos en marcha. Sin redes sociales activas, sin una estructura consolidada, pero con una voluntad firme y una visión clara. Desde el inicio contamos con el respaldo de instituciones como el Concello de Cerdedo-Cotobade, que acogió la propuesta con entusiasmo desde la primera reunión, así como la Deputación de Pontevedra y la Xunta de Galicia, que se sumaron más tarde como patrocinadores.

El objetivo era demostrar que la pasión auténtica, cuando se combina con compromiso y actitud, puede superar cualquier reto. Así nació el Areabesta: un festival concebido desde la dedicación, con vocación de crecer y consolidarse como un referente dentro de la escena metal. Este es un evento creado desde el corazón, para personas que vibran con esta música tanto como nosotros.


¿Existe un concepto específico detrás del festival?



Sí. El nombre Areabesta rinde homenaje a nuestras raíces: a las bestas que habitan nuestros montes y también a la música más "bestia", más salvaje. Fusionamos esa naturaleza indómita con la intensidad de los sonidos extremos. No es solo un festival, es una declaración de intenciones: metal puro, naturaleza salvaje y orgullo por lo nuestro.




¿Cuáles fueron los principales retos para el lanzamiento de la primera edición?

Todo. Desde la falta de recursos hasta la escasez de tiempo. Poner en marcha un festival en apenas 30 días fue una absoluta locura: gestionar permisos y seguros, contactar con las empresas de sonido y las bandas, coordinar con la asociación de vecinos, crear las redes sociales, organizar la difusión y, además, diseñar y producir el merchandising… Empezar desde cero no solo fue un desafío enorme, sino también una demostración poderosa de lo que se puede lograr cuando hay una pasión común que mueve a todos. Cada obstáculo se afrontó y superó con convicción, entrega y compromiso total.


Hay innumerables festivales en España, especialmente durante el verano. ¿Qué diferencia a Areabesta del resto?

El Areabesta no busca la masificación - aunque pueda parecer contradictorio en un festival que aspira a reunir al mayor público posible . No perseguimos el beneficio económico ni la conversión del evento en un producto comercial (que no se confunda con tener una identidad o marca propia). No se trata de llenar por llenar. Nuestro objetivo no es atraer multitudes a cualquier precio, sino conectar con un público que comparta una misma pasión, unos valores y un respeto profundo por la escena underground. Preferimos una comunidad auténtica y comprometida antes que cifras vacías. Crecer, sí, pero sin perder nuestra esencia.

Además, el Areabesta es un festival genuino, salvaje y profundamente orgulloso de la escena gallega, a la que pertenecemos y conocemos de primera mano. Lo que nos distingue es el compromiso con el underground, una localización única y la ausencia total de apariencias. Es un festival de metal hecho por músicos underground, para quienes viven y sienten la música desde las raíces.

Por otra parte, a partir de la segunda edición —si la hay—, las bandas que deseen participar deberán presentar su propuesta a través de un formulario abierto de Google Forms, como solicitud formal. Esta medida busca democratizar el proceso: no será el festival quien busque a los grupos, sino las bandas quienes demuestren que quieren subirse al escenario del Areabesta. Todas tendrán las mismas oportunidades, y sus propuestas serán valoradas según criterios musicales, económicos, artísticos y logísticos, sin favoritismos ni filtros basados en popularidad o amistades. Es una forma de romper con la práctica habitual de muchos festivales, donde la selección suele depender de contactos personales o criterios subjetivos como las visualizaciones, y acercarnos a modelos que ya funcionan en escenas underground europeas, como en Francia o Bélgica.

Otro aspecto que nos diferencia es la historia. El libro A historia del metal extremo en Galicia. Los orígenes (1990-1998)* señala que algunas de las primeras bandas de metal ensayaban precisamente en este lugar. Esa memoria colectiva y ese vínculo con los inicios de la escena gallega nos otorgan una identidad que va más allá de lo musical: aquí no solo se celebra un festival, se honra un legado.

Y algo clave: el festival es completamente gratuito. Creemos firmemente que, cuando un proyecto se financia con dinero público, tendría que ser de acceso libre para toda la ciudadanía. La cultura no debería ser un privilegio ni un negocio: debe ser un derecho, accesible, libre y compartido.



¿Qué puede esperar el público de esta primera edición?

Una experiencia cruda e inolvidable. Un festival auténtico hecho con pasión, en un entorno natural espectacular en el ayuntamiento de Cerdedo-Cotobade, con un sonido que va desde lo más bestia hasta lo más experimental. Este festival es para quienes buscan algo real, sin artificios ni postureo: música, naturaleza y comunidad. La fórmula es así de simple.


¿El festival está dirigido a un público específico o tienen una amplia oferta de estilos musicales?

Aunque el festival nace con el objetivo de abarcar la esencia más pura del metal, queremos explorar un espectro amplio dentro de los sonidos más distorsionados. Habrá metal pesado, pero también propuestas como el rock, el stoner o el metalcore. No excluimos, queremos crear puentes entre estilos y públicos, mostrando la riqueza y diversidad de la escena.

El festival aspira a convertirse en un megáfono para esas bandas que, a menudo, quedan fuera del radar de los grandes festivales. En este país se hace música con personalidad y una calidad incuestionable. Aquí no hay lugar para los complejos.


¿Cuáles fueron los principales requisitos para la selección de las bandas?

Buscamos bandas que representen la esencia de la escena, con propuestas sólidas, originales y cargadas de intensidad. Damos prioridad a bandas gallegas, del entorno y del estado que tienen mucho que decir pero poca visibilidad. Queremos ser altavoz de lo que otros festivales ignoran. No obstante, también estamos abiertos a incluir grupos que aporten valor al cartel - no a cualquier precio -  sin perder de vista la esencia de las bandas underground, cuyos músicos continúan ensayando cada día con la misma pasión y entrega. Ahí reside lo auténtico, y en eso queremos centrar principalmente nuestra atención.


Háblanos sobre la elección del local del festival: una playa.

Elegir Pozo Negro, una playa fluvial en el interior rural de Galicia, fue una decisión consciente. No queríamos un recinto convencional. Queríamos un espacio que fuera tan indómito como el sonido que llevamos al escenario. La naturaleza, el río, la fuerza de la tierra... todo encaja con nuestra visión.

Además, la elección de Cerdedo-Cotobade tiene un valor simbólico importante. Tal como ya se ha mencionado anteriormente en la documentación recogida en el libro1, algunas de las primeras bandas del género comenzaron a ensayar precisamente en esta zona. Por tanto, parte del germen del metal gallego está ligado a este territorio, lo que refuerza aún más el vínculo entre el festival y sus raíces. No se trata solo de música, sino de crear una experiencia que respire naturaleza, historia y comunidad. El Areabesta no es solo un festival: es un regreso a donde empezó.


Galicia tiene una escena cultural y musical muy rica. ¿Es Areabesta una necesidad dar voz a esta escena musical?

Totalmente. Galicia está llena de bandas brutales que merecen mucho más reconocimiento. Existe talento, calidad e identidad, pero falta apoyo. El Areabesta quiere ser una plataforma para dar luz a lo que otros mantienen en la sombra, sin intereses ni filtros. Solo música real.


¿Tienen previsto convertir Areabesta en un evento anual?

No depende únicamente de nosotros. Nuestro objetivo es crear una marca propia con identidad en Cerdedo-Cotobade y que sea reconocible con el tiempo. Nosotros hemos puesto la primera piedra, pero ahora será el ayuntamiento y las instituciones quienes valoren si quieren dar continuidad a futuras ediciones. Esto tampoco nos preocupa en exceso, ya que no pretendemos vivir de este proyecto. No obstante, no cabe duda que esta primera edición “el origen” representa una apuesta valiente por parte de la administración pública, pero si el público objetivo responde, aspiramos a consolidar el Areabesta como una cita anual para la escena metal de Galicia y más allá, sin cerrar ninguna puerta. Nos gustaría que este solo fuese el primer capítulo de una historia aún por escribir en el panorama de los festivales de metal de Galicia.


Un mensaje para atraer al público al festival, el 23 de agosto

Si eres amante del metal, de la música hecha con verdad y de la naturaleza más salvaje, el Areabesta es para ti. El 23 de agosto, a las 20:00 horas, tienes una cita en un lugar mágico, donde el sonido más brutal resonará entre los árboles y el agua. Ven a hacer historia con nosotros en la primera edición de un festival hecho con corazón.


Fernández Taboada, J. (2024). Una historia del metal extremo en Galicia. Los orígenes (1990-1998).
ISBN 978-84-19040-46-6.
https://www.facebook.com/p/Una-Historia-del-Metal-Extremo-en-Galicia-El-Libro-61568620075637/




Um festival de metal organizado em tempo record, sem fins lucrativos e com o apoio das entidades públicas? Sim existe, já tem o cartaz fechado e fica a 2h30 de carro, a partir do Porto. É na Galiza, chama-se AREABESTA FESTIVAL e a organização deu uma entrevista ao BACKSTAGE 2.0 a contar-nos como foi possível esta aventura. 


Quem organiza o Areabesta Festival?

O festival é organizado pela Associação Areabesta, uma organização sem fins lucrativos formada por músicos e amantes de metal com a colaboração da Asociación de Vecinos de Rebordelo. Somos habitantes locais, comprometidos com a cultura e com os sons mais pesados, como o metal e o rock. Não dependemos de grandes estruturas, apenas da força de uma comunidade unida pela paixão pela música.


Criar um festival de metal de raiz, em tempo recorde. Como surgiu a ideia?

A ideia nasceu de uma combinação de motivação, paixão pelo metal e uma pergunta direta: "E se nós organizássemos?". Por vezes, a chave para alcançar os nossos objetivos é a iniciativa, a determinação e a coragem para agir sem hesitação. Não basta esperar que as oportunidades cheguem; é preciso ir em busca delas.

Com este espírito, e em menos de um mês, começámos. Sem redes sociais, sem uma estrutura consolidada, mas com uma vontade firme e uma visão clara. Desde o início que contámos com o apoio de instituições como a Câmara Municipal de Cerdedo-Cotobade, que acolheu com entusiasmo a proposta desde a primeira reunião, bem como o Conselho Provincial de Pontevedra e a Junta da Galiza, que se juntaram posteriormente como patrocinadores.

O objetivo era demonstrar que a paixão autêntica, aliada ao empenho e à atitude, supera qualquer desafio. Assim nasceu Areabesta: um festival pensado com dedicação, com a vocação de crescer e consolidar-se como uma referência na cena do metal. Este é um evento criado com o coração, para pessoas que se identificam com esta música tanto quanto nós.


Existe um conceito específico por detrás do festival?

Sim. O nome Areabesta presta homenagem às nossas raízes: às “bestas” que habitam as nossas montanhas e também à música mais "bestial", mais selvagem. Unimos esta natureza indomável com a intensidade de sons extremos. Não é apenas um festival; é uma declaração de intenções: metal puro, natureza selvagem e orgulho do que é nosso.


Quais foram os principais desafios no lançamento da primeira edição?

Tudo. Desde a falta de recursos até à falta de tempo. Lançar um festival em apenas 30 dias foi uma loucura: gerir licenças e seguros, contactar empresas de som e bandas, coordenar com a associação de moradores, criar as redes sociais, organizar a promoção e, além disso, conceber e produzir o merchandising... Começar do zero não foi apenas um enorme desafio, mas também uma demonstração poderosa do que pode ser alcançado quando todos partilham uma paixão comum. Cada obstáculo foi enfrentado e ultrapassado com convicção, dedicação e total empenho.


Existem inúmeros festivais em Espanha, especialmente durante o verão. O que diferencia Areabesta dos demais?

Areabesta não procura a produção em massa — embora possa parecer contraditório para um festival que pretende reunir o maior público possível. Não procuramos o lucro financeiro nem transformamos o evento num produto comercial (não confundir com ter a nossa própria identidade ou marca). Não se trata de encher o local só por estar cheio. O nosso objetivo não é atrair multidões a qualquer preço, mas sim a conexão com um público que partilha a mesma paixão, valores e profundo respeito pela cena underground. Preferimos uma comunidade autêntica e comprometida a números vazios. Crescer, sim, mas sem perder a nossa essência.

Areabesta é um festival genuíno, selvagem e profundamente orgulhoso da cena galega, à qual pertencemos e conhecemos em primeira mão. O que nos diferencia é o nosso compromisso com o underground, um local único e a total ausência de aparências. É um festival de metal feito por músicos underground, para quem vive e sente a música desde as suas raízes.

Além disso, a partir da segunda edição — caso exista — as bandas que pretendam participar deverão enviar a sua proposta através de um formulário aberto do Google Forms, como uma inscrição formal. Esta medida procura democratizar o processo: não será o festival a procurar bandas, mas sim as bandas a demonstrarem que querem subir ao palco do Areabesta. Todos os participantes terão oportunidades iguais e as suas propostas serão avaliadas com base em critérios musicais, económicos, artísticos e logísticos, sem favoritismos ou filtragem baseados na popularidade ou nas amizades. É uma forma de romper com a prática habitual de muitos festivais, onde a selecção depende muitas vezes de contactos pessoais ou de critérios subjectivos como as visualizações, e de nos aproximarmos de modelos já existentes na cena underground europeia, como a francesa ou a belga.

Outro aspeto que nos diferencia é a nossa história. O livro Uma História do Metal Extremo na Galiza. As Origens (1990-1998) revela que algumas das primeiras bandas de metal ensaiaram precisamente neste local. Esta memória colectiva e esta ligação aos primórdios da cena galega dão-nos uma identidade que vai além do musical: aqui celebramos mais do que um festival. O festival homenageia um legado.

E algo fundamental: o festival é totalmente gratuito. Acreditamos firmemente que, quando um projecto é financiado com dinheiros públicos, deve ser livremente acessível a todos os cidadãos. A cultura não deve ser um privilégio ou um negócio: deve ser um direito, acessível, gratuito e partilhado.


O que é que o público pode esperar desta primeira edição?

Uma experiência crua e inesquecível. Um festival autêntico, feito com paixão, num espetacular cenário natural no concelho de Cerdedo-Cotobade, com uma sonoridade que varia do mais brutal ao mais experimental. Este festival é para quem procura algo real, sem artifícios ou aparências: música, natureza e comunidade. A fórmula é tão simples quanto isso.


O festival é dirigido a um público específico ou oferece uma vasta gama de estilos musicais?

Embora o festival tenha sido criado com o objetivo de abranger a essência mais pura do metal, queremos explorar um amplo espectro dos sons com distorção. Haverá heavy metal, mas também opções como rock, stoner e metalcore. Não excluímos. Queremos construir pontes entre estilos e públicos, destacando a riqueza e a diversidade da cena.

O festival pretende tornar-se um megafone para bandas que muitas vezes passam despercebidas pelos grandes festivais. Neste país, faz-se música com personalidade e qualidade inquestionável. Não há espaço para inseguranças.


Quais foram os principais critérios para a seleção das bandas?

Procurámos bandas que representem a essência da cena, com uma proposta sólida, original e intensa. Demos prioridade a bandas da Galiza, que têm muito para dizer, mas pouca visibilidade. Queremos falar sobre o que outros festivais ignoram. No entanto, estamos também abertos a incluir bandas que acrescentem valor ao cartaz - não a qualquer preço -  sem perder de vista a essência das bandas underground, cujos músicos continuam a ensaiar todos os dias com a mesma paixão e dedicação. É aí que reside a autenticidade, e é nisso que queremos focar a nossa atenção.


Falem-nos sobre a escolha do local do festival: uma praia.

Escolher Pozo Negro, uma praia fluvial no interior rural da Galiza, foi uma decisão consciente. Não queríamos um local convencional. Queríamos um espaço tão selvagem como o som que trazemos para o palco. A natureza, o rio, a força da terra... tudo se encaixa na nossa visão.

Além disso, a escolha de Cerdedo-Cotobade tem um importante valor simbólico. Como já foi referido anteriormente, na documentação reunida no livro, algumas das primeiras bandas do género começaram a ensaiar precisamente nesta área. Portanto, parte da semente do metal galego está ligada a este território, o que fortalece ainda mais a ligação entre o festival e as suas raízes. Não se trata apenas de música, trata-se de criar uma experiência que respira natureza, história e comunidade. Areabesta não é apenas um festival: é um regresso às origens.


A Galiza tem uma cena cultural e musical muito rica. Areabesta é uma necessidade de dar voz a esta cena musical?

Com certeza. Areabesta está repleto de bandas brutais que merecem muito mais reconhecimento. Há talento, qualidade e identidade, mas faltam apoios. Areabesta pretende ser uma plataforma para dar visibilidade ao que os outros mantêm na sombra, sem interesses nem filtros. Apenas música a sério.


Pretendem tornar Areabesta num evento anual?

Não depende só de nós. O nosso objetivo é criar uma marca única com uma identidade em Cerdedo-Cotobade que seja reconhecível ao longo do tempo. Lançámos a primeira pedra, mas agora cabe à Câmara Municipal e às instituições decidir se querem continuar com as próximas edições. Isto não nos preocupa muito, pois não pretendemos viver deste projeto. No entanto, não restam dúvidas de que esta primeira edição, "a origem", representa uma aposta ousada da administração pública. Mas se o público-alvo corresponder, ambicionamos consolidar o Areabesta como um evento anual para a cena metal na Galiza e não só, sem fechar portas. Gostaríamos que este fosse apenas o primeiro capítulo de uma história ainda por escrever no panorama dos festivais de metal galegos.


Uma mensagem para atrair o público ao festival de 23 de agosto.

Se adoras metal, música feita com sinceridade e a natureza mais selvagem, o Areabesta é para ti. No dia 23 de agosto, às 20h00, temos encontro marcado num lugar mágico, onde os sons mais brutais vão ressoar entre as árvores e a água. Venham fazer história connosco na primeira edição de um festival feito com o coração.