Todos os acontecimentos têm um lado bom e um lado menos bom. E o que vos vou relatar aqui hoje teve o lado menos bom de ter terminado. No entanto, se pensar bem, acabar não é assim tão mau porque só podemos criar memórias (e neste caso memórias maravilhosas) de algo que já aconteceu. As memórias referem-se sempre ao passado. Por isso, o acontecimento de 12 de abril só tem lados bons.
E o que aconteceu dia 12 de abril de 2025? Os Living Tales apresentaram o seu novo e grandioso álbum “Hades” aos amigos e familiares, numa Play Session na sua sala de ensaios.
Após o agradável convívio entre os presentes, os Living Tales dão início à apresentação de “Hades” com Ana Isola a fazer as honras da casa, agradecendo a presença de todos e referindo que o álbum será tocado na íntegra e pela ordem das canções. E eis que a magia começa!
Com este álbum, os Living Tales provam que não são uma banda em busca de um lugar, mas que são uma banda com um lugar muito bem definido no metal nacional (e não só) e que esse lugar é no topo da pirâmide (ou do Olimpo).
“Hades” é mais do que um álbum de música, é uma viagem às transformações, às superações e à resiliência humanas, mas é também uma viagem ao mais obscuro da humanidade, à luta entre poderes de tantos Hades e de tantas Persephones, onde uns se julgam detentores dos outros. Conseguiremos reencontrar o caminho da luz e da evolução que se parece ter perdido algures numa pandemia? Conseguiremos superar todas a vozes interiores que nos assustam e demonizam? Conseguiremos ser livres? É para estas questões que nos conduz “Hades” uma entidade divina que se apodera da potentíssima voz de Ana para nos atingir com a sua força e insanidade e ao mesmo tempo nos envolver na sua doçura e feminilidade, tal como uma Amazonas que nos domina. Ana não se limita a interpretar os temas, vive-os a cada um como filhos do seu ventre e transporta todas as emoções nas suas expressões vocais, faciais e corporais. Mas enquanto entidade divina, “Hades” não se contenta em possuir a voz e apodera-se também da genialidade de Luís Oliveira que se ultrapassa a si mesmo nas composições, levando atrás de si a frenética e quase insana bateria de Ricardo Carvalho. De forma a provocar a dualidade “Hades” usa o baixo de João Carneiro de uma forma a que este quase contrarie a espiral de frenesim instrumental a que assistimos, criando um diálogo de cumplicidade única entre baixo e guitarra.
Durante aquela quase uma hora de música o tempo parou e o espaço tornou-se etéreo. As sensações provocadas pelos Living Tales sentiam-se na alma e na pele que se arrepiava constantemente. Um desses momentos é o diálogo entre Hades e Persephone, no tema que dá nome ao álbum e que é um dos meus momentos preferidos. Ao vivo, a voz de Hades surge gravada e, se para muitos puristas isto pode parecer quase sacrilégio, confesso que neste caso em concreto cria um ambiente obscuro e tenebroso, como uma voz que surge do além, cavernosa, dominadora e infernal, mas que não tem corpo nem forma. Adorei!
Destaco também o visual da banda, cuidado e com pormenores que funcionam como um todo. O apontamento de vermelho na indumentária de Luís Oliveira, que poderia parecer um ponto de distração em todo o negro dominante dos restantes elementos, funciona como um ponto de luz, sem criar dissonância.
“Hades”, numa noite de temperatura amena, conseguiu arrepiar os presentes num formato de “concerto privado” muito interessante e confortável, onde não nos perdemos no “ruído” que envolve todo um grande concerto e onde cada um de nós se pode focar no que realmente interessa e nos levou até ali: a música, a magia e a grandiosidade dos Living Tales.
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LIVING TALES - Play Session de apresentação do álbum "HADES"
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